A Asus poderia ter apoiado seu mais recente smartphone em apenas melhorias de processador, memória RAM e até uma GPU mais poderosa. Tudo isso junto é comum em aparelhos dos últimos anos, com pouca inovação e muita mesmice. No lugar de pouca criatividade, a marca de Taiwan resolveu colocar um recurso pouquíssimo popular em smartphones: zoom ótico. O Zenfone Zoom é isso, um aparelho com finas melhorias no que existe no Zenfone 2 e a adição de um novo sensor de imagens, com a possibilidade de aproximar objetos sem perder qualidade da foto e, principalmente, inovar ao fazer tudo isso sem qualquer corpo saindo do aparelho. Se tudo isso faz sentido de fato, ou não, você descobre nas próximas linhas.
Olhando para o Zenfone 2 e os Zenfones anteriores, você nota claramente que o Zoom é um modelo mais premium , por mais que compartilhe de muito dos seus irmãos mais velhos. Sua caixa também reflete este visual mais aprimorado e recebeu profundas mudanças quando comparada ao que existe até então com a Asus. A embalagem é de papelão mais firme, acompanha a cor do modelo escolhido, conta apenas com o nome do smartphone (que brilha) e abre por cima. Dentro temos apenas um apoio para o smartphone ficar por cima, junto de uma alça para segurar o aparelho com mais firmeza e, abaixo disso, está o fone de ouvidos, cabo de dados e adaptador de tomada com carregamento rápido, que envia energia em até 2A com 9 volts.
Infelizmente o primor por beleza da parte externa da caixa não se repte do lado de dentro, já que todos os acessórios estão espalhados e sem qualquer divisão - algo que acontece nos modelos mais caros de concorrentes como Samsung, LG, Sony e até na Apple.
Continuando com este visual com melhor acabamento, o Zenfone Zoom é o primeiro smartphone da Asus que abandona parte do plástico e começa a adotar metal em seu corpo - o que pode ser um forte indício do que está por vir em futuros lançamentos da empresa. O metal que está nas bordas é levemente áspero e com certa curvatura, que encaixa bem o aparelho nas mãos e não dá a sensação de que ele vai escorregar. As bordas da lateral e de todos os botões contam com um pequenino detalhe que salta aos olhos, que é um corte em diferente ângulo do metal, sem proteção de anodização e que fica brilhando. Este detalhe adiciona um brilho quando o celular está perto de fontes de luz, adicionando um pouco de beleza.
A traseira também chama atenção por contar couro italiano e que, segundo a Asus, vem de peças que não foram utilizadas em couro automotivo. Isso significa que não há uma nova morte de animal para aplicar o couro acima do plástico da traseira. Ainda por aqui, temos uma curvatura que é bastante semelhante ao que outros modelos Zenfone apresentaram e que faz o conjunto encaixar bem na mão, junto da maior aderência tradicional de qualquer couro e que faz o smartphone ficar firme. Há até um detalhe com parte saltada, com costura em suas bordas, que ajuda na pegada quando você segura o celular na horizontal - ou seja, quando está tirando fotos, já que seus dedos ficam por lá. Este couro aparenta boa qualidade, mas há relatos de usuários que encontraram partes dele que começaram a descolar do plástico, algo que não vi na unidade que recebi para testes.
No centro da traseira está um círculo enorme e que acomoda a lente da câmera, além de esconder o grande segredo para ter zoom ótico e não saltar nada para fora do aparelho - é por conta deste segredo que a área da câmera é tão grande. O formato circular funciona mais como um apelo de marketing e para passar a sensação de que você está com uma câmera de verdade nas mãos. Neste círculo você também encontra o laser que ajuda no foco e dois LEDs para flash. Abrindo a tampa traseira temos a mesma estrutura de bateria visível-só-que-não-removível que estava no Zenfone 2, espaço para um SIM card, outro para cartão microSD de até 128 GB e os conectores que encostam na tampa e integram a antena NFC. A bateria conta com 3.000mAh de carga, a mesma do Zenfone 2, só que consome mais por conta de seu objetivo que é de tirar fotos. Dá pra ficar um dia inteiro com uso moderado, mas o consumo extra dos processadores Intel fica bem claro aqui e se você quiser usar mais fotos do que eu usei, jogar um pouco mais e deixar ele menos tempo na mesa, vai precisar carregar a bateria mais de uma vez por dia. Para mais detalhes do consumo de energia, clique aqui e visite o teste que fiz durante uma carga completa.
Na frente temos uma tela de 5.5 polegadas, com resolução Full HD, densidade aproximada de 401 pixels por polegada e tecnologia IPS LCD. As cores são bem vivas, sem o exagero de saturação encontrado em telas AMOLED, mas mantendo um ângulo de visão bastante grande. A câmera frontal é de 5 megapixels, conta com lente grande angular e o modelo que recebi não conta com os círculos concêntricos que são uma assinatura da linha Zenfone. A Asus não soube explicar o motivo da remoção deste detalhe, que está presente na versão preta do mesmo aparelho.
Voltando para as bordas, temos alguns novos botões e a remodelação de outros. Os botões de controle de volume foram alongados e agora contam com as letras "W" e "T", que significam a aproximação ou o distanciamento do objeto fotografado - é assim que as câmeras fazem, com estas letras, para dar o zoom. O botão de liga/desliga desceu do topo do smartphone (boa, Asus!) e há um botão específico para tirar fotos (que trabalha com dois estágios, de focar e depois para tirar a foto), junto de outro que funciona para gravar vídeos sem a necessidade de tocar na tela para selecionar esta função.
A unidade de testes que recebi é a mais parruda disponível pela Asus, que comporta um processador Intel Atom Z3590 rodando quatro núcleos em 2.5 GHz (há uma versão com processador de 2.3 GHz), 4 GB de memória RAM, pomposos 128 GB de memória interna (há opção de 64 GB também, mais barato) e uma GPU PowerVR G6430 para gráficos. Os números são grandes e melhores do que o Zenfone 2 em alguns pontos, mantendo outros iguais. No cotidiano eu rodei diversos aplicativos e muitos deles rodaram ao mesmo tempo, sem notar qualquer queda na taxa de quadros por segundo. Ele não é tão rápido quanto o Galaxy S7, por exemplo, mas está longe de ser lento.
O Android que vem instalado ainda é o 5.0 Lollipop e isso dá uma sensação de aparelho atrasado, já que todos os outros lançamentos em topo de linha de 2016 já chegam com o Android 6.0 Marshmallow pronto para o uso. A Asus afirma que a atualização para o novo sistema operacional está em desenvolvimento, apenas não disse quando o update chega ao usuário. A ZenUI continua cobrindo o Android e modificando muito seu visual, muito além do que eu gosto - ok, eu sou amante do Android puro, ou então de escolher por uma alteração bastante leve. O que mais me incomoda por aqui não é nem a parte visual, mas sim a quantidade de aplicativos pré-instalados e, bem, você chega a ter três navegadores diferentes no mesmo smartphone, por exemplo. Sim, três aplicativos para a mesma coisa, com o mesmo objetivo e instalados de fábrica.
Com 64 GB ou 128 GB de espaço, esta quantidade extra de apps não é um problema sério, mas a existência deles incomoda até nas notificações. Em alguns momentos, alguns aplicativos te fazem lembretes de sua existência, como ver se o app que você acabou de instalar é seguro de verdade. Alguns exemplos de aplicativos que poderiam não estar aqui dentro ficam no Clean Master (a própria ZenUI tem um assistente para limpar memória RAM), ZenCircle (um Instagram da Asus, com pouquíssimos usuários), cliente de e-mail (o Gmail já virou um cliente de e-mail para contas externas, como POP3) e ZenFlash (que é para quem comprou um ZenFlash, acessório que adiciona um flash Xenon para o aparelho).
Outros são interessantes, como um que utiliza o laser traseiro como régua de até 50 centímetros, ShareLink para compartilhar músicas, fotos, vídeos e até apps entre dois usuários, junto do Gerenciador de Auto-início e uma galeria de temas que alteram profundamente o visual do aparelho. Em funções e ferramentas há muito do que já está em outros aparelhos da marca, como dois toques na tela para ligar e desligar o display, desenhar uma letra na tela desligada para abrir um app específico (como "c" para câmera e "w" para navegador), gerenciador de tela inicial ao deslizar para baixo o dedo na tela inicial e, além disso, uma busca universal do aparelho que mescla busca local com busca do Google no mesmo local - infelizmente os resultados da web carregam no navegador e não na mesma página da busca interna.
A arquitetura que a Asus escolheu para o processador continua com x86, a mesma dos PCs, contra a ARM de quase que toda a indústria de smartphones. Não temos tantos problemas com compatibilidade como já aconteceu na época do Razr i da Motorola, mas ainda existem aplicativos que não foram escritos para aproveitar por completo a capacidade do hardware do Zenfone Zoom. Um deles é o Here, que até pouco tempo atrás sequer poderia ser instalado em celulares x86 e, agora, pode sim, mas roda com desempenho abaixo do esperado para quem tem 4 GB de memória RAM e um processador quad-core de 2.5 GHz. Aparelhos com menos RAM e processador mais simples rodam melhor, como é o caso do Moto G de terceira geração. No geral, jogos e apps foram instalados por aqui sem problemas.
Ah, se você gosta de benchmarks, aqui vão alguns resultados:
A GPU do Zenfone Zoom é uma PowerVR G6430, a mesma do iPhone 5S e que sabe lidar bem com gráficos também no Android. O que percebi é que alguns raros jogos não demonstram uma fluidez esperada do hardware parrudo que temos aqui. Assim como em apps, não são todos os jogos que são bem feitos para arquitetura x86 e poucos mostram que a junção de CPU potente e GPU parruda pode entregar um desempenho fantástico. Os jogos testados neste modelo foram Real Racing 3, Dead Trigger 2 e Mortal Kombat X, que rodaram bem e sem qualquer engasgo durante a jogatina. Todos os jogos estavam com os gráficos no máximo, sem qualquer economia em detalhes. O Mortal Kombat X teve o melhor desempenho de todos, exibindo uma taxa de quadros por segundo muito alta e acima do que vi em aparelhos de preço semelhante.
O nome deste smartphone tem o sufixo Zoom, o que deixa muito claro que a Asus focou seu emprenho de lançamento na câmera do celular. Ela realmente é uma boa câmera, mas só poderá exibir resultados muito bons se você já sabe utilizar câmeras e tem alguma afinidade com ajustes manuais. Pode parecer estranho, mas o modo automático não tira as melhoras fotos e isso fica muito claro nas fotos noturnas. São 13 megapixels na câmera traseira, que agrupa 10 elementos em lentes posicionadas dentro do aparelho e que fazem a magia do zoom ótico sem a necessidade de aumentar o tamanho físico do aparelho. Tudo funciona com uma espécie de telescópio, local onde ficam as lentes e elas caminham por aí, para aproximar o objeto do sensor de imagens.
Funciona muito bem e o motor de zoom não apresenta qualquer barulho que pode ser captado durante gravação de vídeo, mas ele tem um calcanhar de aquiles gigantesco, que é a abertura da lente do aparelho. Ele é de f/2.7 e vai até f/4.8 e isso ocorre de forma natural pela distância maior entre as lentes internas - é assim que o zoom ótico é feito. A abertura inicial já é muito grande para um smartphone de 2016, já que seus concorrentes já trabalham com f/1.7, como o Galaxy S7 e f/1.8 que está no LG G5. Quanto menor este número, mais luz entra e a foto fica melhor em ambientes escuros.
Para superar este problema, qualquer câmera pode usar dois recursos para aumentar a captação de luz. O primeiro é o ISO , que significa a sensibilidade do filme, ou do sensor de imagens, para a luz que chega. Quanto maior o ISO, mais luz ele capta e tudo fica mais claro, mas a consequência de ISO alto é ruído na foto. É regra de qualquer câmera e isso fica claro nas fotos noturnas do Zenfone Zoom, que sempre são granuladas - nada de aberração, mas sim, bem visível. Outro ponto que a câmera pode utilizar para compensar esta abertura de lente que deixa entrar pouca luz é o tempo de exposição, que deixa entrar mais luz e sem o problema de ter a sensação de que há areia na imagem.
Como você deve ter pensado, maior exposição também tem um preço e é o borrão que pode ficar a foto. O sensor fica exposto ao objeto fotografado por mais tempo e cada parte de luz da imagem "marca" a foto final. Quanto mais tempo o sensor está captando a luz, mais "marcado" o arquivo final fica - é como se você colocasse uma caneta em uma folha e não levantasse mais, apenas movendo a folha. Ela vai ficar riscada e de forma irreversível, mas os riscos serão mais intensos e fortes. Tempo maior de exposição exige maior firmeza nas mãos para evitar borrões, ou até o uso de tripé para evitar a tremedeira natural. Como estamos com um smartphone, algo que dificilmente fica firme e parado, as fotos podem e muito provavelmente vão sair borradas.
O sensor que a Asus colocou no smartphone também não é dos mais parrudos, perdendo para seus concorrentes em alguns detalhes. O Galaxy S7, que trabalha com menos resolução (12 megapixels, contra 13 megapixels do Zoom) consegue detalhes muito maiores e maior riqueza na nitidez das imagens, sem ser um "smartphone focado em fotos". Este ponto, junto com a lente escura, deixa as fotos do Zenfone Zoom abaixo do esperado para um celular que tem todos os trabalhos focados em fotos. Ele, em tese, deveria tirar fotos melhores do que todos os concorrentes próximos, mas não é bem isso que acontece.
As fotos em geral são boas, ricas em detalhes quando há boas condições de luz, mas ficam abaixo da concorrência quando você está tirando uma foto em uma festa, com luz apagada, por exemplo. O HDR, assim como no Zenfone 2, leva tempo demais para processar a imagem e te obriga a ficar parado (com respiração pausada para balançar menos) por muito tempo. O modo de cena noturna faz milagre ao deixar qualquer local quase que sem luz, iluminado por completo, mas isso tem um preço: a resolução cai, os detalhes da foto diminuem e o arquivo final é apenas uma forma de dar mais luz, do que mais qualidade.
Se você souber trabalhar com ISO, abertura da lente, diafragma, obturador e balanço de branco, poderá tirar fotos excelentes e não vai notar o problema do sensor de imagens ou da lente escura, muito menos do tempo extra que o HDR exige. Se você quer apenas sacar o celular do bolso, tirar uma foto e publicar no Instagram, sem pensar em como devem ficar os ajustes para a melhor qualidade possível da foto, talvez o Zenfone Zoom não seja o smartphone que você precisa.
Eu vejo o Zenfone Zoom como uma peça de início de tecnologia, com uma fabricante que ousou mudar a forma como o smartphone lida com lentes e colocou zoom ótico de uma forma muito inteligente - ele tem zoom digital, mas não utilizem nem no Zenfone Zoom ou nem em qualquer outro celular do mundo. Como a maioria das tecnologias novas ou ferramentas em seu primeiro estágio de utilização, encontramos erros e problemas que podem ser corrigidos nas versões futuras dos smartphones. Pensando em uma marca que pensou fora da caixa, a Asus está de parabéns e tem tudo para evoluir esta ideia e adotar zoom ótico em seus outros aparelhos.
Ah, ele também é o único smartphone topo de linha de 2016 que não filma em 4K. Para mim, este não é problema algum, já que arquivos em 4K ficam imensos e esquentam demais o smartphone. E, por fim, aqui estão algunsexemplo de da aproximação que o zoom ótico pode proporcionar, sem distorcer as fotos e, junto deles, exemplos de como a grande abertura da lente em sua aproximação maior, escurece uma foto.
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