A Samsung nunca foi conhecida como uma empresa que aposta forte no lado do design, deixando seus smartphones com um ar muito semelhante - e isso é péssimo para os mais caros, que perdem uma cara premium que poderiam ter. Desde o lançamento do Galaxy S3 não existia qualquer força neste sentido, mas a mudança começou no ano passado e o primeiro protagonista de uma nova Samsung é o Galaxy Note Edge. Sim, ele é um smartphone parrudo da linha Note e entrega a primeira tela curvada, que não tem tantas funções práticas para o usuário, mas que aposta em um visual totalmente novo e único. O hardware do aparelho é o que há de melhor no mundo do Android em 2014, ou seja, um processador Snapdragon 805 rodando quatro núcleos em 2.7 GHz, acompanhado de 3 GB de memória RAM e 32 GB de espaço interno. Roda bem, quase que tudo que você quiser.
A embalagem segue o mesmo padrão que é utilizado em aparelhos desta linha de phablets. Isso significa uma caixa que abre ao meio, conta com o espaço necessário apenas para a largura do celular e os acessórios ficam logo abaixo. O pacote de acessórios inclui um cabo microUSB, fone de ouvido intra auricular e um bem-vindo carregador do tipo que recarrega a bateria em bem menos tempo do que seus concorrentes - é o Quick Charge da Qualcomm, que promete carregar metade da bateria em 30 minutos na tomada.
Aqui está a grande novidade deste aparelho, sua parte externa ligeriamente curvada na lateral direita. A tela faz uma "queda" e estende o display por mais 160 pixels, além dos 2560 x 1440 que já compõe a tela Super AMOLED de 5.6 polegadas e protegida pelo Gorilla Glass 3. A qualidade de exibição de cores é sensacional, algo comum em celulares topo de linha da Samsung, graças ao que o Super AMOLED pode propor em saturação e contraste. Ainda na frente temos o botão home, dois sensíveis ao toque nas laterais e uma câmera frontal de 3.7 megapixels - é mais do que o suficiente para qualquer selfie, vai por mim.
Assim como você já deve ter imaginado, o lado direito não conta com nenhum botão (a tela está lá e deixa a borda extremamente fina), enquanto do outro temos os dois de volume. Acima está o de liga/desliga e abaixo fica a conexão microUSB, junto da canetinha S Pen que, de longe, é a melhor caneta stylus que você pode encontrar por ai. Suas funções extras fazem valer todo o investimento, já que ela trabalha com sensor de pressão que altera a tinta (tinta fica mais grossa, quando você aplica mais pressão na tela) e até atalhos que são acionados com um botão físico. Genial.
Atrás, com uma textura que lembra muito couro (mas não é), temos a câmera traseira de 16 megapixels, leitor de batimentos cardíacos e um flash LED, com o alto-falante logo abaixo de tudo. A tampa revela acesso, quando aberta, para a bateria de 3.000mAh, que em nossos testes conseguiu sobreviver por 9 horas de navegação na web, passou um pouquinho de 10 horas de reprodução de vídeo e garantiu um dia inteiro de uso moderado. Conseguiu até trabalhar no dia seguinte, mas com menos de 30% da carga. Junto da bateria está a entrada para cartão microSD de até 128 GB, outra para o SIM card (padrão Micro-SIM) e conectores para a antena NFC que fica na tampa da bateria.
A pegada do Note Edge seria boa, se a tela não fosse curvada. Ela realmente é bonita e aparenta um ar de "tecnologia soberba", mas deixa de lado por completo a ergonomia. Primeiro problema que tive ao utilizar o aparelho durante os dias antes de escrever este review é que você perde um dos lados para puxar o smartphone de uma superfície lisa. Vou explicar melhor: quando você coloca o celular em uma mesa, algo bem comum, utiliza ambas as bordas para encaixar os dedos e puxar o aparelho para cima, com certa força para fazer com que tudo seja elevado sem qualquer risco de queda. Certo? Certo! No Galaxy Note Edge isso não é possível de um lado, o que te deixa menos espaço para firmar o dedo de um lado, e todo o espaço normal do outro, resultando em uma segurança menor e uma pegada mais desconfortável. Desconforto é a segunda parte dos problemas, já que a tela curvada faz a espessura lateral diminuir consideravelmente e você vai acabar com os dedos dentro da tela. Dificilmente acertei ícones sem querer, mas a sensação de uma "lateral mais afiada" não me agradou, além de eliminar parte da pegada áspera do alumínio, que garante uma segurança extra nas mãos.
Em números, o Note Edge chega com corpo de 151,3 milímetros de altura, por 82,4 de largura e outros 8,3 milímetros na espessura. Junte isso aos 174 gramas e o aparelho não pesa tanto quanto aparenta, por suas enormes dimensões. Ele encaixa bem em um bolso mais apertado e lida ainda melhor se estiver em uma bolsa, ou numa mochila.
Por aqui temos o que há de melhor para o mundo do Android, se você estiver em 2014. Mesmo com "hardware top do ano passado", o Note Edge não faz feio com seu Snapdragon 805 rodando quatro núcleos em 2.7 GHz, com 3 GB de memória RAM, GPU Adreno 420 e 32 GB de espaço interno. Este conjunto é diferente do Galaxy Note 4 que aportou em terras brasileiras e que apostava em um processador próprio da Samsung, o Exynos.
Tudo rodou bem, mesmo com a pesada e antiquada TouchWiz por cima do Android 4.4.4, que está duas versões atrasado do que o Google já entregou aos fabricantes - ao menos em maio de 2015, quando este review foi elaborado. A sensação de atraso é bem pesada quando você tem basicamente o melhor e mais recente smartphone de uma linha conhecida por ter aparelhos bem parrudos. A Samsung está longe de ser veloz nas atualizações do Android e vende o Note Edge por um preço exorbitante, com uma versão bem atrasada do sistema operacional. Para o usuário final pouco muda, já que todos os aplicativos rodam bem nesta versão, mas ver que quase todos os seus concorrentes já trabalham com o Android Lollipop e ele não....é ruim, pior ainda com o preço estratosférico que a Samsung aplica.
Nas modificações e adições de recursos da TouchWiz temos um foco grande nas possibilidades com a caneta S Pen, que abre um leque de opções (é, literalmente) na tela e permite, por exemplo, recortar um pedaço do display e até capturar a tela toda para realizar anotações acima dela. O aplicativo S Note tira proveito de forma incrível da canetinha, com possibilidade de escolher diversos modos de traço e ainda desligando os toques que sua mão pode fazer, aceitando apenas a caneta - dá pra apoiar a mão na tela enquanto escreve, albo bem bacana.
Estes recursos seriam bem aproveitados em telas maiores, principalmente pelo reconhecimento de escrita para inserir textos. Ele funciona muito bem e entende até letra cursiva feia, como a minha. Mas, em uma tela tão pequena e com um teclado virtual já tão próximo, é bem mais inteligente e rápido escrever com os dedos nas teclas, deixando a canetinha guardada. Né?
Voltando na telinha curvada, ou na dobrinha do lado, a Samsung resolveu forçar a barra ao colocar alguns recursos que são bacanas. Bacanas apenas para mostrar pros amigos e não para sua produtividade. A lista de possibilidades de conteúdo que ficam na tela incluí aceitar ligações, ver a previsão do tempo, notícias da CNN e até uma régua em tamanho real e de 10 centímetros. Sério, uma régua. É bizarro, mas até que pode ser útil (e esta é a, no meu ver, função mais útil).
O que muda, por padrão, é que o texto que apareceria na barra de notificações do Android vai para a tela curvada, enquanto a barra apenas apresenta os ícones dos apps que chamaram sua atenção. Olhando para o lado positivo de ter esta telinha, encontrei apenas a vantagem de usar a ferramenta de duas janelas ao mesmo tempo e poder assistir um vídeo no Netflix, ler um e-mail e aina receber notificações sem diminuir a área de visualização. Por fim, dá pra baixar funções novas (não são muitas), colocar um texto personalizado e trocar o texto em letra do sistema para algo manuscrito.
Se para o sistema operacional, mesmo com a TouchWiz, o Galaxy Note já apresentou bom desempenho, em jogos a realidade é exatamente a mesma. A Adreno 420 que roda a parte gráfica do dispositivo trabalha bem com os 3 GB de memória RAM e conseguem, nesta dupla, exibir ótimos detalhes tanto em títulos mais leves como Angry Birds, ou mais intensos como Asphalt 8, Dead Trigger 2 e o Modern Combat 5. Tudo rodou sem um engasgo qualquer, com todas as configurações gráficas no máximo e sem qualquer engasgo.
O tocador de músicas lida, nativamente, com formatos MP3, WAV, eAAC+, AC3 e também FLAC. Há equalizador sonoro e a possibilidade de escolher a música com base em um gráfico, onde você escolhe o humor que espera de cada canção. O aparelho cria uma playlist e tenta encaixar no que você pediu. Para vídeo o smartphone reconhece MP4, DviX, XviD, WMV e também H.264, o suficiente para vídeos em Full HD sem engasgos e com suporte para legenda externa.
A câmera do Note Edge trabalha com um sensor de 16 megapixels e lente de f2.2 na abertura, o que resulta em imagens com baixíssimo ruído em ambientes com pouca luz e resultados fantásticos em locais bem ensolarados. Ela segue quase que o mesmo que é notado em câmeras top de linha da Samsung, como no Note 4 e no Galaxy S6. Para melhorar a nitidez da imagem a Samsung trabalha com efeitos bem pesados, que são notáveis quando você aproxima a imagem em seu tamanho real. Em 100%, é possível notar algumas "aquarelas" criadas para disfarçar ruído e outros problemas, mas que passam longe dos olhos menos treinados e quando você está olhando a imagem na tela do aparelho. Fica tudo bom, de verdade.
Vale a pena comprar o Galaxy Note Edge? Não. A tela curvada na lateral e o couro que não é bem couro, fazem um bom trabalho em deixar o conjunto bonito e sóbrio, mas ele custa caro demais. Outro ponto que precisa ficar claro é que a tela curvada não apresenta função prática de verdade, nada que você não possa fazer hoje com um widget.
Outro ponto que conta para o "não" é que o Galaxy Note 4 tem basicamente o mesmo hardware, uma pegada mais confortável e custa bem menos, Se você busca inovação e não está interessado no valor, é melhor olhar o Galaxy S6 Edge e não o Note Edge. Leve este modelo do review apenas em uma ocasião: você quer o S6 Edge, mas a grana ficou um pouco curta.
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